O linguista Afonso Miguel defendeu, quinta-feira, na últama edição das “Conversas da Academia à Quinta-feira”, que “o português falado em Angola é uma variedade e não uma língua diferente”.
Afonso Miguel dissertou sobre “Empréstimos bantu no português oral de Luanda”, na presença de investigadores de Angola, Bélgica, Brasil e Portugal, na terceira conferência do ciclo do mês de Outubro, sob moderação do escritor e antropólogo Virgílio Coelho.
O conferencista apresentou resultados de estudos a respeito dos empréstimos das línguas bantu para a língua portuguesa, com destaque para os empréstimos a partir da língua kimbundu. Tal como esclareceu, “tais empréstimos resultam de muitas décadas de contactos entre falantes das diversas línguas”.
O português falado em Angola, referiu, é uma variedade e não uma língua diferente da portuguesa. A língua portuguesa é transcontinental, de modo que não permanece intacta na sua origem: “A maneira típica de falar em Angola é diferente do linguajar usado em Portugal, pois há factores socio-culturais que influenciam tais mudanças”.
Afonso Miguel deu conta que existem muitas palavras que foram adoptadas no português oral de Luanda, a partir de línguas bantu. São os casos, dentre várias outras, de jindungo, mwata, zungueira, kínguila, zongola, xingar, kota, marimbondo, kilapi, kupapata, massango e massambala. No quadro da sua investigação, o docente do ISCED de Luanda e da Universidade Católica de Angola deu conta que três quartos das palavras por si estudadas provêm do kimbundu e 77% delas mantêm significado idêntico ao original.
O conferencista desta semana adiantou que, no processo de empréstimo, ocorre inclusivamente haver a manutenção de prefixos nominais bantu, como nos casos de mussque (mu) e jindungo (ji). Os prefixos são depois incorporados no radical da nova palavra em português.
Quanto à grafia, os topónimos e antropónimos devem preservar a sua escrita original, pois os nomes de matriz bantu têm sempre conotação semântica. Deve haver estudos multidisciplinares sobre o assunto, com a participação de linguistas, antropólogos e sociólogos.
Afonso Miguel afirmou faltar a assumpção, por parte das autoridades, da variedade do português falado em Angola. Aliás, foi referido que a Academia Angolana de Letras pode jogar papel decisivo nesse quadro, tal como ocorre noutras latitudes.
A próxima Conversa da Academia à Quinta-feira está agendada para o dia 26 deste mês, a partir das 19h00. Sob moderação do antropólogo Virgílio Coelho, o linguista Mbiavanga Fernando falará sobre “Desafios das línguas de Angola no contexto da globalização”.